Patrícia Delgado Mafra +
Mestrado em Antropologia
Camelódromo da Uruguaiana Rio de Janeiro - 2003 - Brasil.
Acervo pesquisa "A pista e o camelódromo".
Foto: Patrícia Mafra
arquivo
mestrado
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No Museu Nacional, PPGAS- Programa de Pós- Graduação em Antropologia Social da UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro, Patrícia foi bolseira de mestrado em regime de dedicação exclusiva e teve sua investigação financiada pelo CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - na área de Antropologia Urbana e foi convidada pelo Professor Doutor _______________ a integrar o seu Grupo de Pesquisa: “Complexidade sociocultural, mediação e cidadania” na condição de sua orientanda. Apresentou a dissertação de mestrado: "A ‘pista’ e o ‘camelódromo’: os camelôs no Centro do Rio de Janeiro", aprovada por unanimidade e indicação para publicação. Esta dissertação é o resultado de trabalho de campo etnográfico na cidade do Rio de Janeiro e originou na publicação do capítulo “Camelôs Cariocas” no livro "Rio de Janeiro: cultura, política e conflito" pela Zahar Editora. A prática da pesquisa e as leituras realizadas durante o mestrado a levaram a uma reflexão mais aprofundada sobre o estatuto científico da evidência empírica na investigação antropológica e a acertar na estratégia metodológica para atingir os objetivos da investigação. Nesse sentido, Patrícia potencializou suas habilidades na administração de metodologias qualitativas, na comunicação oral e na escrita científica, bem como desenvolveu uma compreensão antropológica do conceito de cidade.

Ingressei no Museu Nacional no ano de 2003 com a intenção de realizar uma etnografia urbana sobre vendedores ambulantes, os “camelôs” da cidade do Rio de Janeiro.
Esta foi minha primeira experiência etnográfica. Minhas intenções eram basicamente realizar uma etnografia para conhecer as relações sociais que se processavam por trás do estigma atribuído a esse tipo de ocupação por parte da municipalidade e da imprensa jornalística, na tentativa de compreender quais seriam os fatores que levaram a atividade do vendedor de rua a se transformar em “caso de polícia” pelas políticas urbanas das principais cidades brasileiras.

No decorrer da investigação, os camelôs com os quais conversei no trabalho de campo delimitaram minhas inquietações iniciais. Categorias como “desemprego”, “rua”, “cidade”, “trabalho”, “política”, constantemente tratadas nas conversas entre eles e fundamentais na elaboração de suas carreiras na “camelotagem”, guiaram-me nas temáticas a serem abordadas na pesquisa e na escrita da etnografia.

De acordo com a questão da pesquisa, confrontei o que os camelôs faziam e diziam com o que era dito sobre eles nos documentos oficiais, nas notícias, nas crônicas jornalísticas e na literatura a partir de uma linha de reflexão sócio-antropológica ligada a teoria interacionista do desvio e aos estudos sobre carreiras desenvolvidas por Everett Hughes, Howard Becker e Erving Goffman.

Dessa maneira, pude confrontar toda uma teoria nativa sobre “trabalho”, “vida” e “política” com a teoria antropológica sobre “carreiras”, que vai colocar o trabalho, e especificamente as profissões, como algo fundamental na construção da identidade dos sujeitos, e o desvio, ou melhor, a acusação do desvio, como um processo político e cultural.





Como bolseira do CNPq foi possível dedicar-me exclusivamente aos estudos e, a partir do início do segundo semestre, conciliando com as leituras e as aulas, dei início às atividades de pesquisa de campo baseada na observação participante. Frequentei o Centro da cidade do Rio de Janeiro e participei do cotidiano de uma rede de “camelôs” atuantes nesta zona. Além do trabalho de campo, realizei pesquisa bibliográfica constante associada à leitura e fichamento das obras diretamente relacionadas à temática da investigação e da antropologia urbana. Realizei levantamentos historiográfico, cartográfico e iconográfico dos logradouros da cidade do Rio de Janeiro e da temática dos vendedores ambulantes no espaço público. Realizei recolha e análise de documentos oficiais e principalmente de material publicado na imprensa sobre a temática. Colaborei com colegas do grupo de pesquisa coordenado pelo Professor Gilberto Velho, bem como fiz análise do material etnográfico e sistematização dos dados recolhidos para a redação da dissertação.
Museu Nacional UFRJ
percurso +
Doutoramento em Antropologia
Parte letiva
Em 2008 Patrícia retornou ao Museu Nacional após um processo seletivo no qual seu projeto de doutoramento foi aprovado e acolhido pelo NuAP - Núcleo de Antropologia da Política. Núcleo do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do Museu Nacional coordenado pelo Professor Moacir Palmeira, que foi seu orientador no doutoramento. O projeto de Patrícia “Casa, comida e comunidade no Alto Paranaíba: uma etnografia no contexto do agronegócio” foi incorporado a um projeto maior “Sociedade e Economia do Agronegócio: um estudo exploratório”, que envolveu pesquisadores de diferentes instituições e disciplinas. O objetivo deste projeto multidisciplinar consistia em realizar um mapeamento das relações sociais que configuravam o chamado “agronegócio” no Brasil. Este projeto desenvolveu-se em várias frentes, da investigação bibliográfica e dos levantamentos cartográficos e estatísticos ao trabalho de campo de cunho antropológico. Tendo sido objeto de investigação empírica sistemática a região produtora de soja, no estado do Mato Grosso, e a região produtora de oleaginosas e do “Café do Cerrado”, no Alto Paranaíba, em Minas Gerais. Sendo esta última, a região onde Patrícia realizou seu trabalho de campo etnográfico e, a partir do qual, contribuiu com relatórios periódicos e participou de debates com toda a equipa. Concomitante a esta investigação, Patrícia atuou como assistente de pesquisa e apoio técnico em outros projetos do NuAP. No projeto “Memória Camponesa e Cultura Popular”, também coordenado pelo seu orientador, fez interlocução entre a equipe e instituições de fomento na administração dos prazos e entrega dos produtos, organizou material para compor acervo sobre a memória do campesinato brasileiro, transcreveu e editou entrevistas com lideranças camponesas das décadas de 1950, 1960, 1970, 1980 de diferentes regiões do Brasil (Nordeste, Sudeste, Sul e Centro- Oeste). Organizou seminários regionais (cidades de Goiânia e Campinas) para reunir as lideranças camponesas com pesquisadores para troca de experiências e intermediação entre o campo e a academia e assessorou a produção de material audiovisual captado nestes seminários. Parte deste material está arquivado na sede do NuAP no Museu Nacional.
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Durante o período de doutoramento no PPGAS - Museu Nacional, além de colaborar com projetos do grupo de acolhimento, cumpri todas as unidades curriculares e obtive satisfatoriamente os créditos com conceito “A”. Ainda assim, o que considero mais marcante desta experiência foi a prática antropológica desempenhada no trabalho de campo etnográfico por dois anos ( 2008 a 2010) numa aldeia rural no Alto Paranaíba em Minas Gerais. Criei com seus moradores uma poderosa interlocução antropológica, a partir da qual desenvolvi reflexões que originaram no projeto de tese, “Casa, comida e criação: um estudo de comunidade no Alto Paranaíba”, aprovado no exame de qualificação e encaminhado para conclusão e defesa. Infelizmente não concluí a escrita da tese atempadamente e, portanto, não obtive o grau de doutorada. No entanto, o doutoramento como um todo e as atividades que desempenhei no âmbito do NuAP foram muito proveitosas e marcaram positivamente minha carreira como investigadora e antropóloga.

Foi muito proveitoso dedicar-me aos estudos, debater e refletir sobre a antropologia de diferentes perspetivas teóricas. Tive a oportunidade de aprofundar os estudos sobre a temática das “sociedades camponesas”. Em razão dos acontecimentos etnográficos no qual estive imersa, investi também nos estudos sobre “Antropologia da natureza”. esta foi uma unidade curricular bastante significativa, ministrada primorosamente pelo Professor Luiz Fernando Dias Duarte e pela Professora Ana Maria Daou. Esta cadeira se propunha a mapear e discutir as relações entre o humano e o mundo vegetal, em três registos: na história dos saberes ocidentais e etnografias de outros significados; na classificação botânica ocidental, a etnobotânica, agricultura / farmacopéia / estimulantes; e na vegetação como Umwelt, no ambiente natural, jardins e paisagística. A partir dos estudos aí realizados, redigi um artigo para a avaliação final: “Na horta e na cozinha: práticas femininas e saberes vegetais no universo camponês.” Somado a este artigo solicitava-se entrega semanal de relatórios de leitura da bibliografia e reflexões, bem como apresentações orais durante as aulas.

A cadeira “Sociedades camponesas” foi central ao contexto etnográfico trabalhado. Nesta unidade curricular discutiu-se o conceito de “camponês”, “campesinato”, “sociedade camponesa” e as implicações teóricas e políticas que marcam a produção intelectual desenvolvida por antropólogos e outros cientistas sociais. A proposta desse estudo consistia em verificar como cada um destes trabalhos sobre as sociedades camponesas contribuíram para a redefinição de temas e questões abordados pela antropologia social. Ao final desta cadeira apresentei o ensaio “A economia camponesa e os “small farmers” da Irlanda”.

Com a finalidade de complementar minha formação como antropóloga, realizei duas outras cadeiras que, embora não tivessem relação direta com a temática da investigação, constituem-se em aprofundamentos teóricos relevantes para o exercício profissional da antropologia: “Transformações culturais na Amazônia indígena” ministrada pela Professora Aparecida Vilaça e “Relações interétnicas” conduzida pela Professora Giralda Seyferth.




Arraial dos Perdizes - Minas Gerais - 2010
Prefeitura de Monte Carmelo - Acervo Dona Miraci
Cozinha de uma casa camponesa - Minas Gerais Brasil. 2008.
Foto: Patrícia Mafra.
Vendedor camelô da "pista". Rio de Janeiro. 2003 - Brasil.
acervo pesquisa "A pista e o camelódromo". Foto: Patrícia Mafra
Homenagem à São João - Minas Gerais. Brasil. 2008.
Foto: Patrícia Mafra.
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Gilberto Velho